Blogsintonizados entrevista Rafael Gloria

Por Leila Ghiorzi

O documento do Word aberto, com uma folha em branco, me lembra que eu tenho que degravar a tal entrevista. Mas não é sobre uma pessoa qualquer. Porra, tenho que escrever sobre o Rafael Gloria. Sobre o Rafa. Sobre o Gloria. Mas cada vez que eu penso no assunto, chega a me dar até raiva. Como fazer um texto à altura desse guri? Nunca terei nem a metade do talento dele. Mas mesmo assim, não consigo odiá-lo.

Ele foi, na verdade, um presente que a Fabico me deu. A Fabico e os Beatles, porque foi por causa deles que começamos a nos falar, logo no início do primeiro semestre de faculdade. Lembro até hoje do menino meio esquisito, introvertido, com uma camiseta preta, com o A Hard Day’s Night estampado na frente. Lembro das minhas primeiras frases pra ele: ”Esse é o melhor CD do mundo! Eu tenho uma camiseta igual, só que branca. Parabéns, tu tem um ótimo gosto musical”. Ele deve ter me achado uma louca... Depois, descobrimos muito mais coisas em comum. Nossa amizade começou tímida, como ele, e aos poucos se fortaleceu, como seu sorriso.

Um confidente. Uma pessoa em quem eu posso confiar. Que fala sobre tudo, escuta e ri. Nossa, como ri. Uma pessoa que se apaixona e se entrega como poucos. Deve ser por isso que ele escreve dessa maneira, com a alma. Ele vive assim, e escreve do mesmo jeito.

Ele nasceu para contar estórias. Seja no jornalismo, seja na letras. Seja aqui, seja no mundo. E nunca faltarão pessoas interessadas nas suas palavras, prontas para ouvi-lo. E eu serei sempre uma delas.

Segue a entrevista:

LADO PING PONG

Nome completo? Rafael Silveira Gloria

Apelido? Rafa, Gloria, depende do momento

Idade? Tenho 21 anos. Faço 22 no ano que vem

Data de aniversário? 6 de fevereiro de 1988

O que tu faz da vida? Faço jornalismo na UFRGS, estagio no Jornal do Comércio, gosto de escrever e me divertir com os amigos.

Time de futebol? Grêmio

Uma mulher? Scarlett Johansonn

Um homem? Belchior

Um bicho? Coelho

Um livro? Viagem ao Centro da Terra, do Julio Verne

Um filme? Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Uma banda? Beatles

Uma música? Don’t let me down

Comida preferida? Massa

O que tu espera do futuro? Fazer o que tiver que fazer, ser reconhecido na minha profissão, conseguir ter dinheiro, viver bem, casar e ter filhos.

Em que outra profissão consegue te imaginar? Me imagino pesquisando livros, processos de escrita e a história dos escritores, na Letras.

Qual era a tua brincadeira favorita quando criança? Eu gostava bastante de pega-pega e esconde-esconde. Eu também fazia umas brincadeiras de escrever uns jornaizinhos, com a minha irmã. Depois a gente mostrava pros nossos pais.

Qual é a tua orientação política? Política é uma coisa que eu realmente não tenho saco. Eu acho que seria mais pra esquerda, mas eu não sou militante.

Qual é o teu maior desejo? Lançar um livro de contos, e depois vários outros livros e conhecer uma mulher que me faça feliz.

Qual é o teu maior medo? Decepcionar alguém. É meio estranho, mas é isso. Eu sempre fico me perguntando se eu estou fazendo a coisa certa. Mas acho que no fundo é me decepcionar, na verdade. Ninguém gosta de ser magoado.

Qual é a tua maior virtude? Eu tento não guardar rancor das pessoas. Não muito. Acho que as pessoas não têm que viver com rancor. Tu fica alimentando um sentimento que vai te atrapalhar. Eu tento ficar tranqüilo, na minha, o máximo possível.

E o teu maior defeito? Maior defeito... Acho que eu não tenho defeitos (risos). Acho que em algumas coisas eu não me ligo... Sou muito indeciso. Quero tudo ao mesmo tempo e acabo às vezes sem nada, ou com uma coisa que eu não queria.

Tu é tímido? Sou, mas eu tento lutar contra isso.

O que o Rafael Gloria tem e tu gostaria que ele não tivesse? Eu sou muito introspectivo... eu tenho vontade de falar, mas eu guardo pra mim. Acho que eu libero isso quando eu escrevo.

Manda um foda-se especial para alguém. Pro Sarney.

Por quê? Porque ele é corrupto, infiel e mentiroso.

LADO AFETIVO

E o coração, como está? O coração está muito feliz, no momento. Que bom, né? Conheci uma guria especial...

Posição sexual favorita? Eu gosto de dar prazer pros dois, então acho que colocando as pernas dela aqui em cima (mostra, apoiando as mãos nos ombros) isso ajuda bastante. Ou às vezes ela por cima, pode ser bom também.

E uma fantasia sexual que tu ainda não tenha realizado? Gostaria de fazer alguma coisa com adrenalina, tipo no meio de um lugar que tenha um monte de gente circulando. Aah, vamos lá rapidinho, como em um elevador, um banheiro (risos de todos).

Tens problema de auto-estima? Tinha antigamente, quando era mais jovem, mas acho que agora não. Eu confio bastante em mim. Mas às vezes eu finjo confiança só pra aparentar que estou confiante. Aí acho que não sou muito autoconfiante. Mas todo mundo é assim, né? Então acho que não tenho grandes problemas com isso.

Tu acredita em fidelidade? Acredito, claro. Acho que esse é um princípio basico do ser humano, se não vira uma algazarra total.

LADO NERD DA FORÇA

Tu é fã de história em quadrinhos? Gosto. Gosto de Batman, principalmente. Eu gosto de mangá também, bastante. Mas gostava mais quando eu era criança.

Se tu pudesse ser um personagem de uma história em quadrinhos, qual seria? Eu gostaria de ser o Yusuke, do Yū Yū Hakusho, acho que é muito tri. Até porque ele é um anti-herói, meio malandro... Eu não sou assim, mas se eu pudesse escolher alguém seria ele. Ou o Coringa, do Batman, que eu acho um personagem bem interessante.

E como é a tua relação com os videogames? Meu pai me deu um Atari, que foi meu primeiro videogame, quando eu tinha cinco ou seis anos. Foi uma paixão à primeira vista. Desde então, eu sempre tive videogame: Supernintendo, Nintendo 64, Playstation... Eu gosto bastante. Acho que não é só uma diversão, pois tem um mercado que está se expandindo bastante.

Tu pretende trabalhar com isso? Pode ser, se me oferecessem um emprego eu gostaria de trabalhar com isso sim.

Tu tem um videogame? Sim, eu tenho um Nintendo Wii

Quais são os teus games favoritos? Zelda, Mario Bros III.

LADO DA ESCRITA

O que te motiva a escrever? Pra mim, sempre foi meio inerente escrever. Pode parecer clichê falar isso, mas desde que eu era criança, eu estava sempre escrevendo bastante. Eu me lembro de uma história, quando eu estava no colégio, na quarta série, daí a professora passou uma história pra gente, sobre uma aranha, mas sem o final. O fim era a gente que tinha que fazer. Eu achei bem interessante aquilo e levei a sério. Tinha que entregar no outro dia, então eu vim pra casa, fiquei pensando a tarde inteira e escrevi o final, que eu não me lembro agora, mas eu entreguei pra ela e ela gostou, eu fiquei em primeiro lugar e ganhei o livro. Eu fiz jornalismo porque eu gosto de escrever. Acho que não é a melhor razão pra escolher jornalismo, mas escrever é o que eu gosto de fazer.

Quando foi que tu escreveu o primeiro texto sem motivação escolar, não porque a professora mandou, mas porque tu quis escrever? Eu tive vários blogs... quando eu tinha treze, quatorze anos, eu tinha um blog, que eu escrevia mais sobre o meu cotidiano. E quando eu tinha essa idade, eu escrevi um conto, porque eu comecei a ler Alan Poe, daí era aquela coisa mais dark, gótica. E eu gostava bastante também do Álvares de Azevedo. Eu comecei mais por poemas. Era o que eu mais gostava, para exacerbar os meus sentimentos juvenis.

Quem são os teus autores preferidos? Eu gosto do Raduam Nassar, um escritor meio desconhecido, que escreve contos e belos romances, indo na alma do ser humano. Machado de Assis. Rubem Fonseca. O Julio Verne começou tudo. Eu li Viagem ao Centro da Terra e comecei a gostar de escrever. Foi o me levou a escrever. Caio Fernando Abreu, também. Carlos Drummond de Andrade.

Tu considera a escrita mais um carma, ou uma dádiva? Eu acho que ela pode ser os dois. Escrever todo mundo pode, ninguém nasce sabendo. Uns têm mais aptidão... Assim como uns têm mais aptidão para dançar, para desenhar, outros têm mais facilidade para escrever. E esses casos são talentos que tu tem que explorar, porque talento sem treino não é nada, nesse sentido é uma dádiva. Mas acho que ela só vira carma, quando você tem essa dádiva, porque pode vir vários problemas a partir disso. É contraditório, mas é por aí.

Tu acha que é preciso ter alma de escritor ou todos são escritores em potencial? Eu acho que todos são escritores em potencial. Todo mundo, se treinar bastante, ler bastante, vai conseguir escrever um bom texto, uma boa história. É claro que existem aquelas pessoas que têm mais talento, aptidão, daí elas terão mais facilidade, leem a mais tempo, mas todos podem ser bons escritores. Essa é a ideia do Postagem Temática. Descobrir o escritor em você,ou se expressar através de vídeos ou fotos.

Tu consegue escrever sob qualquer estado de espírito ou a tua produção depende de como tu está te sentindo naquele dia? Sempre que eu quero escrever eu escrevo... Eu gosto de escrever de madrugada, quando tudo está mais quieto. Daí eu ligo o som, relaxo e escrevo.

A gente já sabe que tu tem talento para literatura. Quais são os teus outros talentos, além de escrever? Eu gosto bastante de música, embora eu ache que não seja um grande talento. Agora eu estou começando a tocar violão, mas eu já toco baixo. E acho que eu tenho talento e paciência com as pessoas, até demais. Mas acho que essa pergunta alguém que me conhece poderia responder melhor.

Qual a tua opinião sobre o diploma do curso de jornalismo? Deveria ser obrigatório ou não? Eu tinha a opinião antes de que deveria ser obrigatório, mas agora eu acho que não. Tu aprende muito mais na prática. A faculdade é meio desestimulante. Claro que existem algumas funções que só um jornalista formado pode exercer, como reportagens ou matérias mais complexas. Mas notícias, releases, assessorias, uma pessoa com um curso mais técnico poderia fazer.

É possível fazer jornalismo literário no Brasil? É possível sim. Não no jornalismo diário, pois tem que ser uma coisa mais pensada. Talvez em uma revista ou na internet. Existem várias pessoas trabalhando com isso. Não aqui no Rio Grande do Sul, mas em São Paulo.

LADO DO BLOG

Mas o momento pelo qual tu está passando, se tu está feliz ou triste, por exemplo, influencia no teu texto? Sim, influencia. No blog, eu escrevo o que eu estou sentindo. É bem de momento. Não é produção literária, em que eu fico pensando o que eu vou escrever, trabalhando as estruturas e tudo mais. Até faço isso no blog, mas é mais rápido. É mais por impulso mesmo. Então, nesse sentido, o que está acontecendo comigo no momento influencia sim.

O que te motivou a ter um blog? Eu criei o Contagens no final de 2007. Tinha uma amiga minha que já tinha um e sugeriu que eu fizesse um blog pra mim, pois elela sabia que eu gostava muito de escrever. Tive outros blogs, mas acabei não postando mais. Daí eu decidi levar mais a sério. Eu estava começando a faculdade também, e eu pensei que seria bom treinar o texto. Eu estipulei que em 2008 eu postaria oito vezes por mês. Aí, se eu estipular uma coisa, eu tenho que fazer. É uma regra minha. E agora em 2009 são dez por mês e a partir do mês que vem serão doze. É uma regra minha. A pessoa tem que criar regras próprias. Tu tem que estipular uma coisa pra ti e tem que tentar até conseguir. Se tu não conseguiu, pelo menos tu tentou.

Tu tem facilidade para escrever sobre qualquer assunto, ou a escolha de temas é um desafio? Eu gosto de desafios. Até por isso eu acho legal as pessoas sugerirem temas no final da postagem temática, porque varia muito. Essa ideia de escrever sobre um tema determinado, tu já está meio moldado para aquilo. É limitador, mas interessante.

Sobre o que tu gosta de escrever? Uma vez me falaram: “ah, o teu blog não tem tema...”. Na verdade, é um blog, não tem que ter tema específico. Mas se eu tivesse que definir quais são os assuntos que mais permeiam o blog, acho que seria relacionamentos e o tempo. A gente nunca tem muito tempo pras coisas.

Como surgiu a idéia da Postagem Temática? Eu estava de férias, em agosto agora, férias prolongadas (por causa da gripe A), sem estágio, e eu pensei: ah, tantas pessoas que eu conheço têm blog, e a maioria delas não se lê, não comentam, não discutem seus textos... Então eu tive essa idéia de reunir o pessoal que tem blog e todo mundo postar sobre um tema comum, Achei que podiam surgir várias ideias interessantes. E deu certo.

Quais são as máscaras do Rafael Gloria? São várias. Tem a máscara do Rafael aluno, do Rafael trabalhador... Eu acho que ter máscaras é uma coisa natural, mas eu não tenho muita coisa a esconder. Não tenho máscaras específicas.

E como são as tuas madrugadas? Ah, eu adoro madrugadas. Tenho até problema com isso, porque eu acabo dormindo muito tarde. Eu tenho ido dormir lá pelas duas e meia, três da manhã. Sempre foi assim, desde que eu era criança. Minha mãe e meu pai dormiam tarde, mas me colocavam pra dormir cedo. Eu deitava na cama e ficava pensando “o que eles estão fazendo na sala?”. Sempre tive essa curiosidade, daí acabava dormindo tarde. Hoje em dia também, eu tenho aula de manhã, então acabo dormindo só cinco horas por noite.

Como é o Gloria do twitter? O Gloria do twitter é bem novo. Eu gosto de colocar links de coisas que eu acho interessante. Acho que o twitter é legal por causa disso também, o pessoal pode indicar coisas legais.

Que valor tem pra ti escrever e compartilhar as tuas ideias através de um blog? Eu acho que é tudo. Eu gosto quando as pessoas leem e comentam. A coisa mais importante de escrever é passar alguma mensagem. No fundo, tocar a pessoa é o que importa, tanto como jornalista ou como escritor. Se tu puder fazer alguma coisa pra uma única pessoa já está valendo.

Qual é o futuro do Blog Sintonizados e da Postagem Temática? O futuro depende das pessoas que estão participando. Espero que elas postem sempre. Se depender de mim, o projeto cresce e vai ter uns cem blogs participando, sempre com novos temas interessantes e todo mundo comentando.

Que conselho tu daria aos nossos internautas? Não vale filtro solar... Eu diria para eles lerem os blogs, comentarem e participarem, por que isso é o importante. É uma maneira de treinar o texto, expor as ideias. Pode ser alguma coisa mais criativa também, com fotos, vídeos, poemas, haicai, essas coisas. Eu acho que as pessoas são incríveis em certos sentidos, um blog, de certa forma é uma extensão de pensamentos. Vamos criar pontes ao invés de muros ao nosso redor. Essa também é a ideia do Sintonizados.

Quem será o próximo entrevistado? O próximo entrevistado vai ser a Tainá Ludmila, do www.qualquermenina.blogspot.com.

Quero agradecer a todo mundo que participa da Postagem Temática e agradecer principalmente também a Leila Ghiorzi, que fez a entrevista e o texto e transcreveu e também para o Leo Ferreira que filmou e editou. Valeu mesmo pessoal! E vamos para o próximo!